Aqui em casa, minhas “obrigações” domésticas são com o almoço e com o “café da noite” - como dizemos aqui no Nordeste. No café da manhã, a cozinha é com a Aline. Dito isso, meu ritual, antes de sair da cama, se resume a respirar conscientemente. Mas meu humano, ao iniciar o novo dia, sempre se pergunta: como o mundo vai me afetar hoje? O que nos afeta?
Lembrando Freud, o que nos afeta depende de vários fatores. São camadas e camadas de experiências, conhecimentos, impressões e representações que interferem na nossa vida. E isso nem sempre faz parte das nossas lembranças de forma clara e objetiva. Grande parte do que isso representa nos afeta sem que tenhamos consciência disso.
Somos afetados por cada experiência que temos e isso traz à tona uma bagagem de sentimentos. Descarregar esse “sentir” pode ser simples, como uma gargalhada ou um choro, mas também pode ser devastador como um ataque de fúria. Nesse processo, quem consegue gerenciar seus impulsos com mais consciência, mais clareza terá das suas próprias expressões.
As velhas questões (família, saúde, dinheiro…) ainda continuam aí, mas hoje eu lido com elas de um modo bem diferente. Não lido como há dez ou quinze anos. Não luto com isso mais. Não preciso desse desafio. Aliás, desafio é sempre algo muito velho. Não que a vida na Terra não nos desafie ou que sejamos negacionistas do mundo, da política, da saúde ou da economia. A questão é que desafios são distrações e não nos tornam seres mais evoluídos ou conscientes.
As velhas questões fazem parte da nossa agenda humana. A mesma agenda que quer tornar o mundo um lugar melhor. Mas é sempre bom lembrar as palavras de um Mestre: “se você quiser mudar o mundo, o mundo vai querer mudar você”. Por isso, o movimento com agenda, com uma expectativa de resultados, é um campo fértil para cultivar, mais cedo ou mais tarde, tédio, angústia e desapontamento. O humano com uma agenda é uma vítima (e, ao mesmo tempo, um abusador) em potencial de si mesmo e do mundo.
Afetar inspirando o outro é bem diferente de impor a própria agenda ao outro. Por isso, acredito no movimento como expressão do ser, como paixão por si mesmo. Não importa que eu esteja atuando como artista, astrólogo ou psicanalista. O meu movimento é sobre me comunicar, expressando a minha própria energia. Permitindo-me ser grandioso e bobo ao mesmo tempo. E, a partir disso, ter mais consciência sobre mim mesmo.
(LH)
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