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Quando o Cabelo Fala Mais do que Mil Palavras

  • Foto do escritor: Aline Bitencourt
    Aline Bitencourt
  • 24 de jun.
  • 2 min de leitura

Reflexões sobre aparência e autoestima

mulher de costas diante do espelho com suas três versões refletidas, cercadas de folhagens e com um gatinho observador ao lado.

Meu cabelo tem sido meu espelho mais ousado. E, muitas vezes, o mais impertinente. Não pelo que ele “faz” — mas pelo que ele desencadeia.


Durante anos, o mantive sob rédeas de crenças invisíveis: liso, disciplinado, “apresentável”. Mais tarde, sem alarde, entre uma respiração e outra, escolhi deixá-lo livre. Livre dos alisamentos, livre das tintas. E com isso, vieram as ondas. Ondas de cabelo e de questionamentos.


Assumi meus fios naturais e, junto com eles, vieram os grisalhos — que chegaram cedo, como quem não tem tempo a perder. Desafiei o espelho, desafiei o padrão, desafiei até a mim mesma. Por um tempo, carreguei essa decisão como bandeira: “Sou jovem, sim, e grisalha também! Veja como é possível!”.


Mas, aos poucos, percebi que a liberdade que me inspirava também estava virando trincheira. Eu havia trocado um rótulo por outro. E liberdade não rima com rigidez — nem quando essa rigidez veste a roupa da rebeldia.


Foi então que, depois de muitas conversas com LH e com meu sentir, escolhi pintar o cabelo de novo. Nada radical. Nada tóxico. Só uma leve camada, quase um sussurro de cor.


E o mais curioso? Me olhei no espelho e não me estranhei. Era como se uma parte esquecida de mim dissesse: “Até que enfim você me escutou.”


Dias depois, entrei num táxi. O motorista me olhou pelo retrovisor e disse: “Engraçado… já levei uma senhora parecida com você. Será que era sua mãe?” Eu ri alto. E por dentro, gargalhei junto com todas as versões de mim mesma que já habitaram esse corpo.


Não era minha mãe. Era eu mesma. Só que com um cabelo diferente. Com uma expressão diferente. E, talvez, com uma leveza que nunca tinha deixado florescer por inteiro.


Hoje, sei que não se trata de ser grisalha, ou tingida, ou lisa, ou ondulada. Trata-se de me permitir mudar. De não me apegar a uma imagem — nem àquela que desafia o sistema.

Cabelo, pra mim, é só mais uma linguagem do Eu. E eu mudo de idioma sempre que o coração pede.


Por Aline Bitencourt, aquela que é muitas em uma só cabeça.

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