O corpo fala com a gente, mas, muitas vezes, não ouvimos. Então, ele grita através de alguma indisposição, cansaço, doença. A gente não ouve, porque optamos por ficar muito tempo imersos na nossa rotina, na dinâmica do nosso dia a dia.
Mas, se escolhermos ouvir nosso corpo, não com drama ou com medo, podemos parar um pouco e observá-lo. Às vezes, é só isso que precisamos fazer para liberar alguns sintomas que nos incomoda física e emocionalmente.
Parece ser uma prescrição muito simples. Mas, se estamos acostumados a nos expressar com determinado ritmo, parar um pouco é como desativar um motor cuja rotação foi programada automaticamente.
Há uma identidade que se comporta tão regularmente, que nós mesmos poderemos estranhar. Também, as pessoas que estão próximas a nós se identificam com nosso movimento usual, mesmo reclamando às vezes.
Mudar o ritmo é desafiante, mas não impossível. Pode acontecer a qualquer momento; não precisamos manter a desculpa de que tudo vai ficar mais calmo quando tirarmos férias ou quando concluirmos uma atividade que é usada como pretexto de nos manter em movimento mais acelerado. Muitas vezes, não há nem um motivo específico, mas eis que surge algo que parece nos impedir de parar um pouco.
Muitas pessoas não estão acostumadas a ficarem sozinhas. Elas podem até dormir num quarto sozinhas ou morar sozinhas. Mas a própria rotina as impede de estarem realmente consigo mesmas. E quem mora com alguém: como "parar para respirar" por meia hora sozinho(a) no quarto?
Parece que quando o constrangimento é superado e o cantinho está pronto para um momento “relax”, o telefone toca, o filho chora, o marido ou a esposa pede ajuda perguntando onde está aquele documento importante que ele(a) não está encontrando. Logo, o encontro consigo mesmo é “agendando” para outro momento.
Se não nos priorizarmos (pode o mundo acabar lá fora!), dificilmente vamos experimentar esse momento com a gente mesmo. Por mais doido que isso pareça, é assim mesmo que acontece muitas vezes. E quando, enfim, vivenciamos este momento a sós, sentindo nosso próprio corpo...
Ah, mas como uma situação tão prazerosamente libertadora foi postergada tantas vezes! Quantas dores, quantos ressentimentos e experiências milenares estavam guardadas, registradas no próprio corpo! E como somos tão resilientes a ponto de manter tanta energia dolorida travada!
Ouvir o nosso corpo é tão simples... Respiramos... E permitimos que ele faça seu trabalho, se rejuvenescendo e se transformando. Para quem ainda não experimentou um momento consigo mesmo, não sabe o que está perdendo!
(Aline Bitencourt)
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