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Nossos Propósitos de Fim de Ano

Como fazer o futuro diferente do passado? Não há receitas. Mas é importante ter a coragem de se autoconhecer e, se preciso, rever o conceito do que seja "certeza".

Nossos Propósitos de Fim de Ano

Nas sociedades mais arcaicas, os indivíduos eram programados a seguir a religião para se sentirem parte da coletividade. Na modernidade, movimentos como o Iluminismo e o Romantismo expandiram a ideia de subjetividade, na qual o indivíduo passou a questionar mais a sua própria existência e singularidade.

Mas, ainda hoje, quando falamos em questões de bem-estar e saúde, a tendência é “biologizar” suas causas e efeitos. No entanto, até a nossa ancestralidade está além do corpo biológico, porque implica em um sistema de crenças que é influenciado pelo senso comum.

Desde os padrões familiares até o que é veiculado pela mídia, tudo pode ser internalizado e parecer uma expressão genuína da nossa subjetividade. Mas não é bem assim. Muitas de nossas escolhas são fundamentadas em afetos, pensamentos e crenças de origem inconsciente.

Para Freud, o inconsciente afeta as nossas escolhas e, se não temos clareza disso, viveremos em permanente conflito. Por um lado, queremos certezas e respostas que nos façam sentir segurança de que estamos no caminho certo. Mas, por outro, temos que dar conta de algo que nos faz únicos: a nossa subjetividade.

Como muitas de nossas criações não são tangíveis, não temos clareza de que elas refletem impressões do que vivenciamos ao longo da vida, refletindo apegos, medos, culpas de coisas que não são realmente escolhas conscientes.

E, em algum momento, isso pode virar um peso, sendo necessário identificar o que é nosso realmente e o que são impressões dos outros e da própria consciência de massa.

A correria do cotidiano e as pressões sociais impelem o indivíduo a não considerar sua própria experiência e sabedoria. Nesse sentido, é necessário que ele se conheça a ponto de se tornar consciente de sua trajetória, de seu passado, incluindo suas angústias, que podem o tornar vulnerável e desamparado.

Como humanos, estamos inclinados a repetir no futuro o que consideramos como certeza no presente. Mas esquecemos que essas certezas podem ser momentâneas. O que outrora nos alicerçou, pode não ser mais apropriado para construir o futuro.

Como fazer o futuro diferente do passado? Não há receitas. Mas é importante ter a coragem de se autoconhecer e, se preciso, rever o conceito do que seja "certeza". Mesmo que isso implique em questionar valores científicos, religiosos ou morais. E, para isso, não é preciso ser um “negacionista". Muito pelo contrário, é sobre aceitar que somos singulares em um mundo diverso.

Fazendo uma analogia com o que formulou Lacan: é importante nos apropriarmos da nossa realidade. Segundo ele, o Real não pode ser explicado nem pelo Imaginário nem pelo Simbólico. Nem sempre uma percepção que temos é genuinamente nossa. Assim como nem sempre o que vem de fora representa perigo. E não há como perceber isso quando não temos consciência de nós mesmos.

Sem essa consciência, os propósitos e os desejos de final de ano não passarão, como diria a poeta, de “palavras apenas, palavras…”.

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