Frase Psicanalítica | Titãs
Cada um de nós terá que indagar a si mesmo sobre a própria falta, sobre o próprio desejo.
"Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?"
A letra do Titãs traz uma reflexão: cada um de nós terá que indagar a si mesmo sobre a própria falta, sobre o próprio desejo.
O que desejamos além das necessidades básicas de sobrevivência?
Para Freud, o desejo é inconsciente, algo que não se mostra de forma cristalina. Por isso, não é racional e precisaria ser interpretado.
Também para o autor, a satisfação da nossa primeira necessidade (fome, sede…), quando bebês, dá uma pista de como serão nossas experiências de desejo.
No entanto, Laplanche e Pontalis ponderam que, para Freud, desejo e necessidade eram diferentes no que tange a forma de satisfação. Diante da necessidade, o indivíduo age de forma específica para ser satisfeito (por exemplo, a sede é satisfeita tomando água). No caso do desejo, a satisfação é incompleta e será buscada por meio das fantasias.
Já Lacan associa o desejo à linguagem, que é uma forma de comunicar algo por meio da fala, de gestos etc. Por exemplo, LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) é uma linguagem dos gestos.
O desejo vem da necessidade e também da demanda.
A necessidade está ligada às nossas exigências biológicas de sobrevivência e não depende da linguagem.
No entanto, um desejo em forma de linguagem é uma demanda. E equivale a um pedido que visa buscar, conseguir algo que falta.
Para Lacan, quando a gente passa da necessidade para a demanda, não queremos simplesmente que o nosso pedido seja atendido. Queremos mais: Queremos amor e tudo o que ele significar.
O que você quer para você, não é o que o mundo quer para você. Eis a questão.
Como disse Lacan: “Você quer o que você deseja?”
O avanço das tecnologias parece distrair cada vez mais o indivíduo, dificultando-o a encarar a própria falta. “Armadilhas” por todos os lados possibilitam que ele seja uma presa fácil de quem oferece fórmulas mágicas para “completar o que falta”.
Um animal irá, através do instinto e com seus meios, encontrar o seu objeto de “completude”. Mas nós, humanos, buscamos como quem quer completar um quebra-cabeças.
Mesmo que todas as nossas necessidades sejam satisfeitas, sempre haverá a sensação de que não estamos completos. Alguns buscarão no consumismo essa reparação. Outros, no relacionamento amoroso e por aí vai. De alguma forma, sempre existirá uma expectativa.
Então, como descobrir o que falta?
Aquilo que sempre retorna através das nossas queixas, que faz a gente andar em círculos, com a sensação de que não saímos do lugar, diz algo sobre os nossos desejos.
Desejo suscita conflito e, muitas vezes, deriva da proibição. Não é à toa que é muito comum que a gente lute contra eles.
Quem tem um desejo frustrado não irá, por isso, adoecer. Todos nós temos desejos e é certo que se ele for reprimido pode, sim, gerar sintomas.
Mas a repressão, como mecanismo de defesa, não é sinônimo da não realização de um desejo, mas do fato de não reconhecermos que esse desejo existe em nós.
Se a falta não deixa de ser falta só porque colocamos em prática nossos desejos reprimidos, também não dá para se ter uma vida com pouca ou sem alguma satisfação, sem que isso gere sintomas.
Dessa forma, a psicanálise pode auxiliar o indivíduo a se deparar com sua própria falta e reconhecer como a sua subjetividade se confronta com a realidade. Através desse encontro consigo mesmo, é possível acessar a existência do que está reprimido dentro de si e permitir se responsabilizar pelo que lhe é estranho e singular.