A(s) masculinidade(s) na série “Bebê Rena”
A figura de Donny nos faz refletir sobre o que é ser homem na atualidade, porque não é mais possível seguir o ideal de masculinidade de vinte ou trinta anos atrás.
Pode conter spoiler 🚨
A série recente da Netflix “Bebê Rena” vai muito além de um caso de “stalker", que ocorre quando uma pessoa tem uma obsessão por outra a ponto de segui-la por todos os lugares. Traz o tema das “masculinidades” em meio à história de Donny, seu protagonista.
Donny é um homem adulto que sonha em ser comediante, mas que coleciona uma série de fracassos e, para sobreviver, trabalha em um bar e mora de favor com a mãe de uma ex-namorada. Um dia, ele encontra Martha, que passa a persegui-lo, trazendo à tona suas experiências passadas, que incluem abuso sexual, e mostram sua baixa autoestima.
Nesse sentido, a minissérie mostra a figura masculina fragilizada e sendo o tempo todo amparado por mulheres que dominam a cena, como a ex-namorada, a namorada trans bem-sucedida, a ex-sogra, que lhe dá abrigo, e a sua própria perseguidora, que, paradoxalmente, o faz se sentir vulnerável e viril.
A figura de Donny nos faz refletir sobre o que é ser homem na atualidade, porque não é mais possível seguir o ideal de masculinidade de vinte ou trinta anos atrás. Com isso, mesmo com todo o esforço para seguir os clichês de como é ter virilidade, ser homem parece ter se tornado uma tarefa confusa.
O constante culto à heteronormatividade ajuda a promover o machismo, a misoginia, a transfobia, ou seja, uma verdadeira fábrica de abusadores. Não é à toa que “masculinidade tóxica” se tornou uma expressão muito usada, mostrando como as subjetividades masculinas podem causar danos para os próprios homens e para a sociedade como um todo.
Querer mais testosterona não vai deter o avanço da sociedade, mas torna as coisas mais difíceis, porque tem o potencial de alimentar mais guerras. Sem falar que é preciso lidar com uma mulher (mãe, irmã, namorada, colega de trabalho…) que avançou dentro da sociedade e que espera um homem diferente, mesmo quando não esteja preparada para lidar com as consequências.
Os patriarcas e seu patriarcado estão fragilizados. Isso é fato. Não é mais possível vestir os meninos somente de azul. Todavia, assim como ocorreu com Donny, há sempre a alternativa de aceitar e assumir a própria subjetividade, sem apontar culpados. Não mais valorizando apenas o poder, a força física ou a audácia, mas a empatia e a sabedoria de quem habitou o útero de uma mulher.